Sinopse: “Independente e altiva, Lúcia, a mais rica cortesã
do Rio de Janeiro, não se deixava prender a nenhum homem. Até conhecer Paulo. A
partir daí, ela se vê totalmente entregue; tudo o que quer é permanecer junto
dele. Esse romance passa a ser o assunto mais comentado na Corte. Os
comentários chegam aos ouvidos de Paulo e o incomodam profundamente. Valeria a
pena romper seu relacionamento só para manter a boa imagem diante das pessoas?.
Um dos mais polêmicos romances de José de Alencar.”
Em 2005 eu assisti uma novela chamada “Essas mulheres”, isso
foi na época em que a Rede Record e o SBT começaram a fazer novelas boas e a
Rede Globo ficou assustadíssima com medo de perder pontos no ibope. E ela se
sentiu assim com razão.
Foi uma novela fantástica! Baseou suas três protagonistas
nos três perfis de José de Alencar: Diva, Lucíola e Senhora. Desde aquela época
eu senti vontade de ler os três romances e ver quais eram a estórias reais nas
quais as protagonistas foram inspiradas.
Nos anos seguintes àquele, comprei “Senhora” e li. Adorei
todo o jogo feito pela mocinha ao longo de toda a história para provar que quem
mandava agora era ela e que, quando alguém se vende e troca seu verdadeiro amor
pelo dinheiro, acaba perdendo seu real valor. Depois de ler “Senhora”, mantive
no coração a vontade de ler os outros dois perfis femininos do autor mas acabei
me afundando em textos da faculdade e outros diversos livros que encontrei pelo
caminho, então nunca os procurava e, muito menos, os lia. Até que um amigo meu
comentou que iria comprar uns livros e eu falei para ele trazer ambos para mim,
ele trouxe “Lucíola” apenas, e fiquei muito feliz, pq este me deixou mais
curiosa do que “Diva”.
Por ser um livro pequeno e com uma leitura muito gostosa,
apesar de ser uma obra do Mal do século, com todas as suas descrições eternas e
desmembramentos enormes de uma situação simples, além de todo o sofrimento do “amar
demais”, li o livro em poucos dias e sofria demais com a protagonista.
Lucíola é o nome de um inseto que, apesar de viver na
escuridão, emite luz, o nome do inseto foi escolhido para compará-lo à uma
mulher que, apesar do ambiente onde vive, conserva uma alma pura. Com as
palavras do próprio autor:
“Eis o destino que lhes dou; quanto ao título, não me foi
difícil achar. O nome da moça, cujo perfil o senhor me desenhou com tanto
esmero, lembrou-me o nome de um inseto. "Lucíola" é o lampiro noturno
que brilha de uma luz tão viva no seio da treva e à beira dos charcos. Não será
a imagem verdadeira da mulher que no abismo da perdição conserva a pureza d'alma?"
Uma prostituta de 19 anos, esta era a protagonista. Jovem,
linda, rosto de menina, porte de dama de classe, 5 anos de experiência na área,
peso desta experiência visível em sua personalidade volúvel e impossível de
controlar.
Lúcia é uma mulher indomável e que, diferente das demais
prostitutas, escolhia quem seria seu amante e por quanto tempo ele poderia
ficar, não aceitando-o de volta a menos que ela decidisse que ele poderia retornar para sua vida, demais esforços
seriam em vão. Esta mulher por acaso encontra Paulo, um homem que havia chegado
à corte a pouco e não sabia de sua fama,ele a vê e a admira por sua beleza
ingênua, ela o ouve e isso a marca, por razões óbvias.
A história do livro se desenvolve sobre a relação de Lúcia
com Paulo, mostrando que mulheres que escolheram vender seus corpos e se abster
dos sentimentos que as prenderiam a apenas uma pessoa, cada uma com sua razão,
também possuem a capacidade de amar... e a sociedade não as perdoa caso
resolvam deitar-se com um homem por amor, sem fitar valores monetários.
"[...]—Ah! esquecia que uma mulher como eu não se
pertence; é uma coisa pública, um carro da praça, que não pode recusar quem
chega. Estes objetos, este luxo, que comprei muito caro também, porque me
custaram vergonha e humilhação, nada disto é meu. Se quisesse dá-los, roubaria
aos meus amantes presentes e futuros; aquele que os aceitasse seria meu
cúmplice. Esqueci, que, para ter o direito de vender o meu corpo, perdi a
liberdade de dá-lo a quem me aprouver! O mundo é lógico! Aplaudia-me se eu
reduzisse à miséria a família de algum libertino; era justo que pateasse se eu
tivesse a loucura de arruinar-me, e por um homem pobre! Enquanto abrir a mão
para receber o salário, contando os meus beijos pelo número das notas do banco,
ou medindo o fogo das minhas carícias pelo peso do ouro; enquanto ostentar a
impudência da cortesã e fizer timbre da minha infâmia, um homem honesto pode
rolar-se nos meus braços sem que a mais leve nódoa manche a sua honra; mas se
pedir-lhe que me aceite, se lhe suplicar a esmola de um pouco de afeição, oh!
então o meu contato será como a lepra para a sua dignidade e a sua reputação.
Todo o homem honesto deve repelir-me![...]"
O mais impressionante é como a crítica deste livro de quase
duzentos anos atrás ainda é atual.
Este livro foca também em como a protagonista vestia um
personagem quando estava atuando como a cortesã mais desejada na corte
fluminense, ao contrário de sua real persona, que aparecia quando estava em
casa, com seus livros, suas musicas e consigo mesma. Cita até como a família da
época reagiria a uma situação como a que ela passou, independente de suas
razões serem as mais nobres. Uma filha perdida era uma filha perdida,
independente da causa de sua perdição. Ela morreria para a família, ela morreria
para si mesma, ela morreria para o mundo, só a mulher perdida seria vista a
partir daquele momento, quisesse ela ou não fazer voz à fama adquirida.
É um livro fantástico e que quase me levou às lagrimas ao
final. Só não chorei pq me seguro muito nessas horas.